quinta-feira, 14 de abril de 2011

Little Valente Maria

Quando um ator faz uma cena com outro ator, em inglês, diz-se que fulano is "playing against" sicrano. Na verdade, usamos a mesma expressão em português, mas ‘contracenar' não parece uma expressão tão competitiva. Há mesmo uma espécie de luta entre dois atores em cena, como se estivessem brigando para ver quem rouba a cena. Talvez não devessse ser assim, mas esta profissão tem mais relação com uma corrida de obstáculos, ou com uma luta livre, do que se imagina. Sempre pode haver um vencedor e um perdedor. Ser humano não tem jeito. É o que somos.

Visto por este ângulo, me impressionou a tranquilidade com que a Maria Flor embarcou neste seu primeiro projeto falado em inglês. Não estar trabalhando em sua mátria, como diria o poeta, é como entrar numa raia onde sua posição de largada está 10 metros atrás do outro ator "contra" quem se vai atuar. Quando este outro ator é um medalhista, então, a coisa fica mais difícil ainda. Mas a Flor foi valente e enfrentou 16 páginas com Antony Hopkins, ou com Ben Foster, bravamente e se saiu bem. Muito bem!

Não bastassem as dificuldades expostas acima, ainda houveram outros obstáculos para ela. Como já contei aqui, Ben Foster não quis conhecer a Maria Flor antes de rodar suas cenas com ela, pois seus personagens também não se conheciam. A primeira cena rodada juntos foi praticamente o primeiro encontro dos dois atores. Eles haviam dito boa-noite uma semana antes, e só. Para complicar ainda mais a vida da atriz, combinei que rodaria só a primeira parte desta primeira cena entre eles, mas na traição, pedi para o Ben entrar em quadro e continuasse a cena surpreendendo-a com o encontro inesperado, assim como acontece na história. Reconheço que a idéia de surpreendê-la foi meio tola, uma vez que ambos são bons atores e poderiam facilmente interpretar a surpresa, mas o fato é que funcionou. Rodamos outras tomadas depois desta experiência estabanada, mas acho que a eletricidade do encontro está mesmo naquele primeiro ‘take’. A montagem dirá.

Neste dia, a sequência toda da Flor com o Ben Foster foi meio rodada como um jogo. Na continuação desta mesma cena, também sem avisá-la, Ben levantou-se de sua cadeira e pediu que ela trocasse de lugar com ele. Ela não entendeu o que estava acontecendo, assim como a sua personagem não deveria entender este pedido estranho, que nem estava no roteiro, mas entrou no jogo, acatou a ordem e nunca perdeu o texto, nem saiu do personagem. Simplesmente saiu tocando a bola como um Neymar. Na terceira parte da cena foi a vez dela surpreendê-lo. Ela me pediu para não cortar a câmera onde estava previsto e deixá-la tocar o diálogo sem ele saber. Ben percebeu logo a jogada e embarcou sem vacilar. Ambos estavam tão dentro dos seus personagens que só mesmo o grito de corta, como uma estalada do dedo de um hipnotizador, conseguia tirá-los daquele mundo onde estavam. Me envolvi tanto com a tensão e as variações de climas que eles traziam em cada tomada, que quando vi já havíamos rodado quase 3 horas de material com as duas câmeras. Para uma cena de uns 3 ou 4 minutos isso é bem ridículo, reconheço.

Na semana seguinte foram as cenas da Flor com Anthony Hopkins. Aí não houveram surpresas, mas a dificuldade da Flor talvez tenha sido ainda maior pois Hopkins estava tão dentro do seu personagem que mesmo quando estava falando com ela parecia estar mais focado nos sentimentos do John, que interpretava, do que no que ela dizia. Entendi ali o que disse o Moritz sobre ter que atuar sozinho. Hopkins estava lá defendendo seu personagem, fazendo seu trabalho. Ela que trabalhasse para salvar o seu. Jogo para gigantes. Hoje, recebi um email dele que dizia: "I enjoyed playing with little Maria - she is so talented and beautiful".

Apesar de contracenar com dois atores brilhantes, talvez a melhor cena da Maria Flor, no filme, seja um momento em que ela, sozinha, chora dentro de um banheiro de avião. Rodamos apenas dois ‘takes’ e nem teria sido preciso o segundo, se não quiséssemos trocar de lente, pois no primeiro, parte da equipe já disfarçava as lágrimas ao vê-la. Quando um maquinista é visto discretamente enxugando os olhos, significa que alguma coisa aconteceu no set. No dia seguinte o Peter (roteirista), que recebe o material filmado por email todos os dias, mandou uma mensagem cumprimentando-a. Para mim acrescentou: 'Esta garota vai virar uma estrela internacional'. É bem possível. Hoje, a Flor está em Los Angeles se reunindo com diferentes produtores já interessados em conhecê-la para seus projetos.

É questão de tempo, acredito. Pouco tempo.

Ponto para "little Maria".

15 comentários:

  1. sou fã da maria flor desde o começo da carreira dela. ela merece todo o sucesso do mundo.

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  2. ela é realmente incrível! super talentosa, profissional e ainda por cima uma querida! fico feliz com as notícias...

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  3. Maria Flor é uma atriz muito talentosa e versátil. Fiquei contente com a possibilidade dela iniciar uma carreira internacional. Sucesso para ela e para "360"!

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  4. Nossa, fiquei muito entusiasmada e feliz ao saber desta nova produção que está sendo feita!! "SIR" A. Hopkins + atores brasileiros... SUCESSO!!!

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  5. Fernando, quanta generosidade sua em compartilhar mais um projeto! Emocionado com suas palavras sobre Maria Flor e querendo ver seu filme o quanto antes! Obrigado!

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  6. Poxa Fernando, tiro meu chapéu para esta sua atitude de reconhecer publicamente o talento daqueles com quem tem dividido este trabalho... quem bom que você não está jogando "contra" ninguém...

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  7. Fernando, após fazer um seminário no meu curso de teatro sobre vc me apaixonei pelo seu trabalho, pelo modo como vc conduz seus atores e o set de gravação. O seminário já foi apresentado mas ainda nao consigo nao querer saber ainda mais sobre o seu trabalho. É simplesmente incrível e uma delicia de ser apreciado. Que delícia é pode acompanhar o blog de 360 e poder ler em cada linha a paixão com que vc faz o seu trabalho. E sobre a Little Maria... com certeza ela será uma grande estrela. Pelo o que acompanhei de seus trabalhos potencial, vontade e dedicação é o que não faltam a ela.
    Parabéns pelo blog e muita merda em 360.
    Enquanto o filme não chega nas telonas, eu humildemente acompanharei todo esse processo de criação aqui no blog!

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  8. Puxa, little Maria me fez chorar de imaginar o momento, a cena, a personagem, o maquinista...tudo entrando pela câmera até o diretor. Pura emoção!
    Parabéns sempre. Bjs a todos.

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  9. Ahhh!! ORGULHOOOOOO...sou fã e vibro junto com as conquistas dela. És brilhante e carismática, além de linda. APLAUSOS sempre...

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  10. A Maria é uma ótima atriz mesmo...
    Agora:"...já havíamos rodado quase 3 horas de material com as duas câmeras. Para uma cena de uns 3 ou 4 minutos..." - Vc sempre trabalha com duas cameras cobrindo tudo? O Adriano desenha muito a luz para essas cameras?
    Abs

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  11. Sei que todos os atores que você costuma escolher para seus projetos são grandes, mas, geralmente, quando um diretor medíocre dirige bons atores, mesmo que eles sejam espetaculares, saem um pouco chamuscados do projeto. A realidade é que você é que consegue fazer um bom trabalho e extrair dos atores os melhores resultados possíveis...

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  12. Maria Flor é excepcional, e tá se mostrando cada vez merecedora de projetos internacionais. Gosto muito do modo como o Meirelles dirige seus filmes, usando e abusando do ``improviso``, do erro que dá certo, dá surpresa nas cenas, isso torna o projeto MUITO melhor. Tô acompanhando de perto esse projeto e já não vejo a hora de estreiar.

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  13. eu ADORO a maria flor tenho um albun de fotos so dela com dedicatoria no meu orkut eu acompanho todos os filmes e miniseries dela e adoroo muito eu fiquei muito triste quando ela deixou o twitter mais mesmo por isso nao deixo de venera-la.

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  14. puxa esse novo filme e sensacional eu adorei e fiquei emocionada pelo trabalho da talentosa e linda maria flor, as atuacoes dela tanto no cinema quanto na tv sao sempre maravilhosas eu adorei.

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  15. É sempre bom saber um pouco mais sobre o que acontece nas filmagens, detalhes, coisas que nos fazem sentir próximos aos atores. Melhor ainda é saber que o que estamos lendo é sobre um talento brasileiro tendo uma ótima atuação lá fora. Que bom que temos ótimos diretores como o Meirelles valorizam sempre atores daqui. Muito sucesso ao 360 e toda a equipe.

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