segunda-feira, 28 de março de 2011

Rachel e Juliano

Relendo meu texto anterior postado aqui percebi que deixei no ar uma esquisita sensação de arrependimento por ter me envolvido em 360. Ela de fato existiu mas escrevi aquilo ha um mês atras quando devia estar sentindo mais ou menos o que sente o mergulhador ao se ver diante do penhasco antes do mergulho. Aquela sensação de " será ?" Agora que o impulso foi dado o sentimento é de voar. Ontem foi o terceiro dia de filmagem e já não ha mais espaço para este tipo de frescura.

No nosso primeiro dia não rodamos nenhuma grande cena de fato, apenas gente indo e vindo. Um bom começo para conhecer a equipe.

No segundo dia entramos de cara numa cena intensa com o Juliano Cazarré e a Rachel Weisz espremidos em um minúsculo quarto de hotel cheio de espelhos para o nosso desespero e felicidade. Rose é uma mulher madura que não acredita que um cara tão mais jovem possa realmente ter interesse por ela, Rui é um fotógrafo brasileiro que também não acredita ser possível que uma mulher daquelas, além do mais culta, sofisticada e com todas as chaves das portas por onde ele quer entrar nas mãos, possa ter algum interessse real por ele. Por causa deste desencontro plantado em suas cabeças este casal que se ama está por um fio.

Sei o quão difícil deve ser para duas pessoas que se conheceram num rápido ensaio num domingo ter que fazer uma cena tão intensa e íntima na segunda-feira de manhã. Ambos chegaram muito tensos então nos demos um tempo para achar a música da cena , para deixa-la brotar. Com a câmera rodando um jogava uma linha ou experimentava um tom inesperado e o outro ia catando e costurando com aquilo. O que era bom ia sendo incorporado no take seguinte. Como já havia trabalhado com a Rachel sei que ela precisa ensaiar rodando, se não for assim ela economiza e não entrega a cena. É uma atriz que surfa no instante. O Juliano vem de uma experiência onde a improvisação também parece estar por trás do processo de criação da cena então ele estava confortável em não se prender ao texto mesmo sendo a primeira vez que trabalha em outra língua.
A cena tinha algo de meloframa, ia em apenas um tom de cabo a rabo. aos poucos começamos a achar as variações: Um desconforto, risadas, novo desconforto, sedução. No final entregaram momentos de pura eletricidade e delicadeza.

Adriano com a câmera na mão entrou no jogo e colocou o espectador na corda bamba daquele momento tão tênue, respirou com eles.

Saí com a boa sensação de estar fazendo cinema. Se vai prestar não sabemos, mas tinha vida ali e isso já é alguma coisa.
E quero mais.

f

Londres - 23/03/2011

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