segunda-feira, 28 de março de 2011

Por que "360"?

Londres, 23 de Fevereiro de 2011

Sou uma vítima da inércia.
Ao descer pelo elevador do hotel aqui em Londres, a caminho de algum restaurante chinês ou indiano (que sei que vou me arrepender de ter entrado ao sair), me pego com aquela conhecida sensação de ter dado um passo errado ao entrar neste filme. Sob o peso do grande esforço que é começar a colocar esta enorme máquina em movimento penso: Tudo estava tão bem em São Paulo, para que me coloco nestas situações?

Neste sábado terminou a primeira semana de pré-produção de "360" e, já deu para sentir que a bola de neve está crescendo e como sempre vai me atropelar.
Falta ainda muita coisa para ser produzida, e até mesmo para ser pensada, mas os dias insistem em passar. Na hora sei que contarei com o velho instinto para resolver o que não consegui planejar e, depois ainda tem a montagem, onde problemas de filmagem podem ser sanados, mesmo assim a ansiedade cresce e a pergunta não para de pipocar na minha cabeça: Para que me colocar nestas situações?

Numa entrevista, a primeira pergunta que fazem para um diretor é invariavelmente a mesma: "What first attracted you to the project?". Impulso, claro. Seria sempre esta a minha resposta se eu me permitisse ser honesto.
No caso de "360" a pressão que fez com que o impulso me levasse até este indiano, onde jantarei hoje, nasceu da frustração de ter trabalhado por oito meses no roteiro de uma biografia de Janis Joplin, para ver o projeto ser enterrado pelo roteirista que não gostou do trabalho que o diretor e roteirista Zé Belmonte e eu fizemos em sua história. Entre maio e junho de 2010, enquanto ainda trabalhava em Janis Joplin, eu havia lido alguns roteiros e entre eles “360”. O roteiro me interessou, não como diretor, pois eu já estava comprometido, mas sim como leitor. Era um roteiro muito bem escrito, bons diálogos, situações interessantes e humanas que não consegui parar de ler até o fim. Ao terminá-lo, escrevi para o produtor elogiando o trabalho mas, avisando que não poderia rodá-lo. Algumas semanas depois o David, produtor, surfando nas ondas de fofoca que banham Los Angeles, ouviu dizer que o projeto da Janis Joplin talvez não fosse mais acontecer e então me ligou. Num impulso respondi lacônico:

- Vamos conversar.
- Porque você não vem para Londres e bate um papo com o Peter Morgan, roteirista?
- Claro! Por que não?

Vim em final de agosto e o resto é história.

f

4 comentários:

  1. fernando, a verdade é essa: relaxa e goza. nada de histería.

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  2. Realmente pra chegar no projeto, teve que dar um 360 literalmente!!! hahahahaha.

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  3. A situação. Um peso que não se pode erguer, mas que é sufocante. Um medo das próprias escolhas, própria capacidade, controlar o que vem pela frente, incerteza de derrubar o peso que carrega em seus ombros, incerteza que o cerca e te esmaga com uma voracidade avassaladora. Correr às cegas para onde quer que este caminho te leve. Deve e vai ser feito, você se convence que tem o poder para isso, mas ao mesmo tempo não faz idéia como será feito, não lhe vem a força necessária e percebe a roubada que acabou entrando. A incerteza desencoraja qualquer ser humano, que nesta hora se põe menor do que a vida lhe reserva. Apesar de não ter força de vontade necessária no momento, quer descobrir o processo, apenas descobrindo na vivência o que virá. Confiamos em você, todos nós, sua equipe, seu elenco, e seus espectadores. Quando se olha pra trás, tudo estava errado, tudo estava certo, incerto, foi assim, mas você vai descobrindo com o tempo, e se apaixonando pelo que virá depois, aprendendo que aquele foi mais um passo, e não se arrepende do processo, de cada milésimo que aprendeu, vivenciou. O resultado, pouco importa para nós neste momento, mas é o que cerca seus pesadelos, e é disso que todos desconhecemos, mas só a certeza de que, quando terminar, uma respiração profunda, inspire, expire, e uma sensação de leveza será tão forte, que você vai, em pensamento voltar nessa jornada e querer recobrar cada momento. Aprenda, ensine, só você é capaz, pois só você o fará.

    um abraço, e muita força!

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